Quem foi que disse que a gente só sente medo do que consegue ver?
O ano é 2020 e o mês é fevereiro. O Carnaval acabou aqui no Brasil e a vida está voltando ao normal. Você escuta falar sobre um filme e pensa “ah, vai ser só mais um filme, mas mesmo assim eu vou assistir” e quando saí da sala de cinema você está “perplecto”. Sim, foi exatamente assim que eu me senti após a sessão de O Homem Invisível.
O livro “O Homem Invisível” de H.G. Wells (1897) já havia sido adaptado para o cinema com um filme do mesmo título em 1933. Em 2000, nós também pudemos assistir o filme “O Homem Sem Sombra” que parte do mesmo princípio de invisibilidade do vilão da história. Esse filme faz parte de uma tentativa da Universal Studios de criar um multiverso compartilhado de terror. A primeira investida do estúdio em começar esse universo expandido (assim com o Universo Marvel) começou (e terminou) em 2017 após o lançamento do filme “A Múmia”, com Tom Cruise. Após investir muito dinheiro na produção de “A Múmia”, a Universal tomou novo fôlego e abaixou muito os custos de sua nova produção gastando APENAS 9 milhões de dólares na execução deste filme. Ao contrário da tentativa frustrada feita em 2017, o novo filme da Universal já é um sucesso. No seu primeiro final de semana de estreia, o filme já havia rendido ao estúdio mais de 49 milhões de dólares.
Certo, mas qual o motivo de tanto sucesso? O motivo disso é porque além de ter um roteiro bem amarrado e bem feito, os efeitos especiais, direção de arte, fotografia e trilha sonora estão todos muito bem conectados e deixam o espectador preso na cadeira do início ao final do filme.
De acordo com o trailer do filme, Cecília é uma jovem que foge de casa no meio da noite por estar vivendo um relacionamento abusivo com o seu marido. Para sua surpresa, Adrian (seu marido) comete suicídio e ela passa a se sentir vigiada dentro de casa. O que ela alega para os amigos e familiares é que está sendo vigiada ele e que isso só é possível pois ele está invisível.
Parece loucura? Não só parece como é! Mas ainda assim, você compra a ideia da personagem principal e torce muito para que tudo acabe bem no final!
Esse filme foi dirigido por Leigh Whannell, roteirista responsável por “Jogos Mortais” (aquele primeirão) e também pela direção de “Sobrenatural: A Origem”. Dentre vários outros filmes onde o diretor esteve ligado direta ou indiretamente, já presumimos que Leigh tenha uma expertise grande quando o assunto é criar atmosferas sombrias e temerosas.
Neste filme ele não deixa a desejar. Em duas horas de filme, é quase impossível respirar aliviado ou se sentir confortável na cadeira. Enquanto a personagem de Elisabeth Moss não se sente bem com o que está acontecendo, você também não vai deixá-la na mão. Como mencionado acima, todos os elementos do filme caminham juntos para um filme brilhante e dão sustento para toda a tensão criada do início ao fim.
Quando pensamos em Direção de Fotografia, todos os planos são abertos e te dão margem para olhar em volta e se sentir perdido. Essa é uma característica muito diferente do filme, uma vez que filmes de suspense trabalham no geral com planos mais fechados para criar uma sensação de confinamento no espectador. Além disso, câmeras subjetivas estão à sua disposição o tempo inteiro, ou seja, em vários momentos você pode acompanhar as coisas do ponto de vista do Homem Invisível ou de Cecília.
A Direção de Arte também nos dá um presente dando várias dicas de coisas que vão acontecer no filme só mostrando alguns objetos. Esses objetos são chamados de Armas de Checov, mas eu explico isso em um outro momento.
Sobre as atuações, o grande destaque vai para Elisabeth Moss. O time escalado para trabalhar nesse filme era realmente muito bom e todos fizeram ótimos papéis, mas o desempenho de Elisabeth como Cecília está incrível. A personagem vai entrando num estado de desespero no decorrer do longa que te deixa sem saber o que fazer. Todas as suas expressões e a forma como ela retrata o que está acontecendo, te faz sentir como parte do elenco, então você acaba morrendo de medo do que está acontecendo tanto quanto ela.
Na minha opinião, o roteiro foi brilhante quando falamos de amarração. A explicação usada para defender o argumento de invisibilidade de Adrian, te faz questionar se uma máquina como a que foi usada no filme, já não é algo presente na nossa realidade. Além disso, o nome da personagem principal é Cecília que significa “CEGA”. Já o nome de Adrian significa “sombrio”. Ao longo de todo o filme Cecília não consegue ver Adrian.
Outro ponto importante no roteiro é o plano de fundo usado para a história. O abuso em relacionamentos é algo absurdamente normal nos nossos dias, e usar esse tema como forma de aproximação entre o público e o filme é algo muito bom. Temas relevantes como esse são mais facilmente assimilados por um grupo, quando são consumidos em forma de entretenimento.
E se você acha que tudo isso ainda não é argumento bom o suficiente para te fazer assistir o filme, o final dele vai te deixar de cabelo em pé! Ao final da primeira hora de filme eu estava me questionando se ele não devia ter parado por ali mesmo que “já estava bom”. Quando filme acabou de vez, eu entendi muito bem o motivo de ainda temos mais uma hora para contemplar o que estava em cena. O trabalho de roteiro somatizado à todos os demais elementos mencionados aqui, entregam uma brilhante obra da sétima arte para os espectadores.
Saí do cinema querendo mais, e muito feliz por saber que um trabalho tão barato deu tão certo!
E aí? Você gostou do filme? Não gostou? Tem alguma ressalva? Eu gravei um vídeo no meu canal falando mais sobre o filme. Dá uma passada por lá e até semana que vem!
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